quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Pirata

- Vamos brincar de pirata! você vai ser minha filha! -
         Um pequeno menino de cabelo liso e preto, com  não mais de 4 anos me falava isso, seu rosto se encheu de alegria quando eu lhe disse que brincaria, pois não tem como dizer "não" para uma criaturinha tão fofa. A casa da arvore, a pouco tempo construída do jardim de sua casa, era nosso navio. A almofada era nosso canhão, e o livro que antes eu lia, Hugo Cabret, era a bala do nosso canhão. Em uma de nossas mãos, um gancho e na outra uma espada de plastico. Havia uma cadeira que no inicio o menino se recusava a sentar pois era de princesas e falava de amor, mas depois ele se rendeu e acabou sentando, cansado. Dentro da casa  nossas camas nos esperavam, outras almofadas e um travesseiro que nos tínhamos que dividir. A raiva as vezes tomava conta do menino, mas as vezes a frustração chegava sem avisar.
- Eu quero matar o Peter Pan!
        Porque um menino com essa carinha de anjinho, esses cabelos lisos, essa miniatura quereria matar o Peter Pan?
- Eu quero matar ele porque ele não faz parte da minha vida! Porque ele não me ama!
        Agora o amor que ele não gostava na cadeira de princesas, importava. Ele olhou para mim e segurando a espada com as duas mãozinhas acertou na arvore mais próxima. A espada caiu no chão, o escorregador estava pronto para ele descer e caindo em um pedaço de tatame verde ele pegou a espada e disse:
- Pronto, agora ele esta morto!

tema: unidade


Não olhar para eles

           Sabe quando você conversa com pessoas que não conhece e elas ficam te encarando? Com aqueles olhos grandes, cheios de esperança que você diga ou faça alguma coisa. Elas ficam tentando buscar seu olhar de algum jeito, mas ele esta concentrado em outra coisa, em uma distração, para que você não pareça idiota falando com a pessoa e olhando para o chão. Esses olhos, as vezes claros ou escuros, vazios ou cheios, brilhantes, mortos, me dão medo. Tenho medo de que eles encontrem uma falha no meu rosto e nunca mais voltem a esquece-la, medo de que me devorem com os olhos. 
          As vezes eles me precionam, me criticam ou até algumas vezes me admiram. Mas sempre olhando fixamente para mim. Aqueles olhos claros, escuros, vazios, cheios, brilhantes, mortos, que me incomodam tanto. 

tema: extra